NASA TERá DE CORTAR ALGUNS BILHõES DE DóLARES DA SUA AMBICIOSA MISSãO A MARTE, MAS COMO?

Quer se manter informado, ter acesso a mais de 60 colunistas e reportagens exclusivas?Assine o Estadão aqui!

A Agência Espacial Americana (Nasa) anunciou nesta semana que pretende alterar os planos para a Mars Sample Return, a mais ambiciosa missão já planejada sobre Marte. O objetivo é reduzir os custos da empreitada, que vai trazer de volta à Terra amostras recolhidas no Planeta Vermelho, de US$ 11 bilhões (R$ 55 bilhões) para, ao menos, US$ 7 bilhões (R$ 35 bilhões).

A Nasa quer também antecipar o retorno das amostras em cerca de dez anos, da década de 2040 para a de 2030.

  • O robô Perseverance, da Nasa, está coletando amostras de solo e rochas marcianos desde 2021. O objetivo é tentar entender melhor a história geológica do planeta e a evolução do seu clima, além de coletar informações para uma futura missão com astronautas.
  • O retorno das amostras à Terra deve ajudar também na busca por sinais de vida alienígena. No entanto, embora a agência espacial já tenha pousado diversos veículos em Marte, nunca foi feito um lançamento de um outro planeta.

“A Mars Sample Return é uma das missões mais complexas da Nasa”, afirmou o administrador-geral da agência, Bill Nelson, em entrevista coletiva. “Mas o orçamento de US$ 11 bilhões se mostrou muito alto e a data de regresso, em 2040, muito distante.”

Uma revisão independente sobre o programa, cujos resultados foram anunciados no fim do ano passado, concluiu que o programa tinha “um orçamento e um organograma pouco realistas”.

Para piorar a situação, a Nasa sofreu um corte de US$ 500 milhões em verbas de dotação da Câmara e do Senado dos EUA para este ano. Por isso, justificou Nelson, o corte é necessário ou outros projetos científicos seriam prejudicados.

“Pousar em Marte, coletar amostras em segurança, lançar um foguete com as amostras (o que nunca foi feito antes), transportá-las por mais de 50 milhões de quilômetros de volta à Terra não é uma tarefa simples”, reconheceu Nelson. “Mas precisamos olhar para fora da caixa para encontrar um novo caminho de fazer isso, que seja mais barato e mais ágil.”

A agência informou que pretende trabalhar com especialistas próprios e também com os de empresas espaciais privadas para desenvolver a nova proposta para esta segunda etapa da missão.

A primeira etapa teve início em 2021 com a chegada do robô Perseverance em Marte e a coleta das primeiras amostras de solo. Ao todo, está previsto o retorno de pelo menos 30 amostras à Terra.

“Essas amostras não são aleatórias, elas foram muito bem selecionadas e coletadas”, garantiu Nicky Fox, administradora associada da Diretoria de Missões Científicas da Nasa. “Elas são muito importantes para o nosso país, sobretudo agora que avançamos para a Lua e, depois, para Marte.”

Entenda o plano

O plano atual de retorno de amostras de Marte, elaborado pelo Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, na Califórnia, envolve uma coreografia complexa, como detalhou o jornal americano The New York Times.

Primeiro, uma nova espaçonave robótica aterrissaria perto do rover Perseverance, que então entregaria cerca de 30 de suas amostras de rocha. Essas amostras seriam então lançadas na órbita de Marte. Outra espaçonave, da Agência Espacial Europeia, recuperaria essas amostras, as levaria de volta à Terra e as deixaria em um pequeno veículo em forma de disco que pousaria em um deserto de Utah.

Para realizar uma missão mais rápida e com menor custo, uma ideia poderia ser deixar algumas das amostras em Marte. Isso reduziria o tamanho e a complexidade da espaçonave necessária.

Se os cientistas forem forçados a escolher quais rochas eles mais querem, “acho que haverá uma conversa científica muito, muito animada e muito empolgante”, disse ao Times Nicola Fox, administrador associado da diretoria de missões científicas da Nasa.

Em fevereiro, Casey Dreier, chefe de política espacial da Planetary Society, escreveu um ensaio sobre a possibilidade de a Nasa recorrer à SpaceX de Elon Musk para uma missão robótica de retorno de amostras de Marte mais barata. O gigantesco foguete Starship da SpaceX está sendo projetado com o objetivo de enviar pessoas a Marte.

“A resposta é quase certamente ‘não’”, escreveu Dreier na época. “Pelo menos, não tão cedo.”

Mas se Musk e a SpaceX estiverem interessados, a Nasa agora está disposta a ouvir. Dreier disse que a SpaceX precisaria resolver vários desafios técnicos, inclusive como poderia produzir propulsores para a viagem de volta.

“Isso está se tornando menos ou mais caro, demorado e arriscado do que o conceito original do JPL?” disse Dreier, referindo-se ao plano do Laboratório de Propulsão a Jato.

A SpaceX não respondeu a um pedido de comentário do jornal The New York Times.

Dreier disse que, como otimista, talvez Nelson estivesse certo e que alguém ofereceria uma solução melhor.

Mas ele acrescentou que o anúncio da Nasa na segunda-feira poderia ser um pretexto para cancelar a missão ou tentar convencer o Congresso de que ela realmente precisava de US$ 11 bilhões.

“Pode ser que as pessoas não queiram aceitar que esse é o custo”, disse ele. “Acho que essa é uma das coisas que descobriremos.” /COM THE NEW YORK TIMES

2024-04-16T20:13:43Z dg43tfdfdgfd