RESISTêNCIA NO SERTANEJO: 10 ARTISTAS LGBTQIAPN+ QUE DESAFIAM O CONSERVADORISMO DO GêNERO MAIS POPULAR DO PAíS

Gênero mais ouvido do Brasil em 2023, segundo dados do Spotify, o sertanejo é conhecido por ser consumido majoritariamente por pessoas heterossexuais. O conservadorismo de quem faz o segmento ficou ainda mais evidente durante as últimas eleições, quando as maiores estrelas do mercado, como Gusttavo Lima, Zezé Di Camargo e Leonardo, apoiaram abertamente a candidatura de Jair Bolsonaro.

No entanto, há quem não se acomode com este cenário. De revelações do Queernejo, subgênero onde artistas LGBTQIAPN+ cantam suas vivências com todas as influências do sertanejo, às estrelas do mainstream, existem inúmeros artistas em busca de transformar o segmento em um espaço acolhedor também para a comunidade, que celebra o Dia do Orgulho nesta sexta-feira (28).

O Purepeople separou 10 estrelas do sertanejo que falam e cantam abertamente sobre sexualidade e identidade de gênero e ajudam a romper barreiras na música mais popular do Brasil. Confira!

10 ESTRELAS LGBTQIAPN+ DO SERTANEJO

1) Alice Marcone: Considerada a primeira cantora trans do sertanejo, Alice cresceu em área rural e teve um pai apaixonado por sertanejo, o que despertou nela a paixão pelo gênero. Atriz, ela faz sucesso na série "De Volta aos 15", protagonizada por Maisa na Netflix. Como roteirista, ela também participou de "Manhãs de Setembro", produção da Prime Video estrelada por Liniker.

"Somos artistas LGBTQIA+ do interior ou de contextos urbanos, onde o sertanejo é muito forte, estamos na vontade de criar essa representação, esse imaginário, essa é a nossa estética musical. A gente vai falar sobre ser LGBT na nossa música", explica Alice, em entrevista ao portal Metrópoles.

2) Gabeu: Pioneiro do Queernejo, Gabeu é filho de ninguém menos que Solimões, da dupla com Rio Negro. Em seu trabalho, o artista reinvidica não precisar abandonar o gênero que tanto ama para falar sobre as vivências enquanto pessoa LGBTQIAPN+. A proposta ousada deu muito certo e, em 2022, o álbum "Agropoc" foi indicado ao Grammy Latino na categoria "Melhor Álbum de Música Sertaneja".

"Sempre me senti muito deslocado no meio sertanejo, apesar dele fazer parte da minha história. Na minha descoberta artística surgiu essa ideia de fazer o Queernejo. Pensei: 'É um caminho arriscado e que talvez nem dê certo, mas acho que vai ser verdadeiro e fazer sentido para mim'. Uni coisas muito fortes para mim, o fato de ser gay e caipira", disse Gabeu, em entrevista ao UOL.

3) Gali Galó: Um dos fundadores do "Fivela Fest", o primeiro festival de Queernejo do Brasil, Gali lançou o primeiro single, "Na Frente dos Bois", há três anos. Ele classifica seu trabalho como "uma mistura de suas raízes na música caipira com o brega e o melodrama". Em 2023, o disco homônimo dele apareceu na lista do jornal Folha de São Paulo como um dos melhores do ano.

"Quando cheguei na adolescência, percebi que não tinha ninguém do meu interesse nos lugares que tocava sertanejo. Além de machista, era homofóbico e absolutamente cisnormativo. Nesse momento, tive que me afastar do sertanejo e logo em seguida, com minha mudança para São Paulo, cortei de vez relações com o estilo. Todo mundo achava 'brega' cantar sertanejo e, apenas dez anos depois, mudaríamos completamente nosso conceito sobre como ser brega é positivo", refletiu Gali, em entrevista ao portal Gay Blog.

4) Lauana Prado: Um dos principais nomes do feminejo na atualidade, Lauana é assumidamente bissexual, driblando o conservadorismo do mercado sertanejo mainstream. Atualmente, a estrela, dona de hits como "Escrito Nas Estrelas" e "Cobaia", namora com a influenciadora Tati Dias.

Sobre revelar que é bissexual no auge do sucesso, Lauana refletiu, em entrevista à revista Quem, que foi um processo. "Eu sempre coloquei o meu trabalho na frente de qualquer questão pessoal, com profissionalismo e lançando músicas de sucesso. Com as conquistas importantes que tive ao longo de minha carreira, eu conquistei o respeito e o meu espaço no meio", explicou.

5) Luiza Martins:Revelada como dupla de Maurílio, falecido em 2021, Luiza desponta na carreira solo graças a hits como "Cê Não Me Superou" e "Ponto Final". Desde o ano passado, ela está noiva da médica e ex-"BBB 20" Marcela Mc Gowan. Os preparativos para a cerimônia, que deve acontecer na Bahia, já estão a todo vapor.

"O sertanejo é a música do heteronormativo -não estou colocando isso como critica, mas como constatação. Só que é também um estilo que eu amo muito, que me acolhe. Sou grata aos amigos que fiz no caminho, pessoas que bateram nas minhas costas, me incentivaram e disseram: 'só vai, fia'. É um estilo tradicional, então qualquer coisa que seja diferente do que já é feito, vai causar algum impacto", declarou Luiza, em entrevista ao UOL.

6) Paula Mattos: Autora de smash hits cantados por homens, como "Que Sorte a Nossa", interpretada por Matheus & Kauan, Paula teve como musa inspiradora a ex-esposa, com quem estava casada há 9 anos quando decidiu dividir sua orientação sexual com o público. A sertaneja explicou que demorou a revelar o casamento porque tinha medo da reação do público - com 18 anos, a recepção não foi das melhores quando deu a notícia em casa.

"Aos 8 anos de idade, minha mãe me viu dando um selinho numa amiguinha de escola e me olhou feio, me reprimiu. Por me sentir culpada, cheguei a namorar garotos, mas aos 18 anos resolvi me assumir para os meus pais. Meu pai disse 'ok', mas não foi fácil lidar com a reação da minha mãe. Quando eu contei, ela começou a chorar muito, como se eu tivesse matado alguém. É muito importante a mãe apoiar, acolher o filho, entender o que ele quer ser. Eu cresci com vários bloqueios, não me aceitava", desabafou Paula, em conversa com o jornalista André Piunti.

7) Reddy Allor: Outro forte destaque do Queernejo, Reddy tinha uma dupla sertaneja com o irmão antes de seguir a carreira artística como drag queen. Em 2022, foi uma das vencedores do "Queen Stars Brasil", reality show da Max que também revelou Diego Martins, o Kelvin de "Terra e Paixão". Agora, ela se prepara para o lançamento de seu primeiro CD solo no segundo semestre deste ano.

"Com o público do pop ainda é mais fácil gerar essa identificação pelo conceito que o meu trabalho carrega. Já o sertanejo é extremamente conservador e não dá abertura pra uma drag, independente de cantar sertanejo ou não, ser LGBTQ+ faz com que essa estrutura machista, historicamente me afaste. Mas isso não gera desistência da minha parte, pelo contrário, me dá mais força pra querer ocupar esse lugar e mostrar que é sim possível quebrar essas barreiras", conta Reddy, em entrevista exclusiva ao Purepeople.

8) Roberta Miranda: Consagrada como a rainha do sertanejo, Roberta revelou ser "trissexual" em 2022. Ela afirmou que já se envolveu com homens e mulheres e, também, já namorou uma travesti. No ano passado, a estrela lançou a música "Desatemos os Nós", uma faixa onde canta sobre um relacionamento homossexual.

"Temos que trazer negros, drag queens, gays, todos! É uma hipocrisia do tamanho do mundo isso de falar: 'Ah, eu sou do sertanejo, tenho que ser macho comedor, tenho que casar para não perder as fãs'. Eu fico aqui morrendo de dó, porque ninguém pode ser feliz. A vida é breve! Vá ser feliz!", declarou Roberta, em depoimento publicado pela revista Billboard Brasil.

9) Yasmin Santos: Voz do smash hit "Saudade Modo Hard", Yasmin nunca escondeu publicamente seus relacionamentos. Atualmente, a estrela vive um namoro com a influenciadora Maria Venture, participante do "De Férias com o Ex". As duas se conheceram em dezembro do ano passado e engataram o romance em abril.

"Nunca escondi, mas a gente sabe que, querendo ou não, o sertanejo é um meio machista. Acredito que isso esteja mudando agora com as mulheres dominando o cenário, o que tem gerado uma força incrível, um ambiente melhor e uma representatividade importante", comentou Yasmin, em entrevista exclusiva ao Terra.

10) Zerzil: Artista não-binário, Zerzil despontou na carreira musical em 2016 e, quatro anos depois, migrou para o Queernejo com a repercussão da faixa "Garanhão do Vale". Em 2023, lançou o álbum "Queernejo", que marca sua despedida do gênero em busca de explorar novas sonoridades. Em suas letras, destacam-se a linguagem neutra, representatividade ainda rara nas músicas mainstream.

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