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Todo ano, alguns dias antes da entrega das estatuetas do Primetime Emmy Awards 2024, os prêmios considerados “menores” - que incluem categorias técnicas e participações especiais - são anunciados no que é chamado de Creative Arts Emmy. Em 2024, uma das séries mais indicadas e mais bem-sucedidas da temporada quebrou um recorde: Xógum: A Gloriosa Saga do Japão, saiu da cerimônia que ocorreu no último final de semana com 14 vitórias de suas 16 indicações. O recorde foi, então, retirado de John Adams, série da HBO que segurava a posição com seus 13 Emmys recebidos em 2008. O marco já deixa algumas expectativas para a premiação que acontece neste domingo, dia 15.
O ocorrido não foi uma surpresa completa: Xógum chamou muita atenção durante seu período de exibição, entre fevereiro e abril deste ano, e foi um sucesso de boca a boca que chegou a ser chamado de “sucessor de Game of Thrones”. Inicialmente planejada como uma minissérie, Xógum fez tanto estrondo que uma segunda e uma terceira temporadas foram confirmadas, por mais que o primeiro ano já tenha adaptado todo seu material base, o livro de 1975 de James Clavell.
Fosse série limitada, o maior concorrente de Xógum nesta temporada de Emmy seria Bebê Rena, o hit da Netflix que atingiu sucesso ao redor do globo em sua estreia em abril. Série biográfica estrelada, escrita e dirigida por Richard Gadd, Bebê Rena tem chances propulsadas mais pelo elemento de novidade do que por sua qualidade: o sucesso inesperado acabou por chamar mais atenção dos que as ótimas novas temporadas de séries antológicas que concorrem na mesma categoria, como o quinto ano de Fargo ou True Detective: Terra Noturna, ambos com alguma chance de vitória este ano. A concorrente da própria Netflix, Ripley, pode acabar surpreendendo também, até porque levou três estatuetas no final de semana passado.
Mas Xógum foi de fato renovada e, na categoria de drama, promete fazer história. Depois de se tornar a segunda série de língua não inglesa indicada na categoria (a primeira foi Round 6, em 2022), Xógum tem chances altas de se tornar a primeira série em idioma não-inglês a de fato levar o maior prêmio da noite. Para isso, no entanto, a competição é ligeiramente acirrada: ele concorre com The Crown, há tempos queridinha da premiação, e que inclusive já tem uma vitória de melhor série por sua quarta temporada. A produção da Netflix sobre a coroa britânica vem também com a força de uma última temporada, o que poderia aumentar suas chances, se o último ano não tivesse tido uma recepção relativamente morna.
Quando os indicados foram anunciados, em julho, muito foi falado sobre o recorde quebrado por O Urso, série disponível no Disney+ que criou rebuliço, pelo segundo ano seguido, por sua inclusão nas categorias de comédia. Uma série sobre luto, que trata sobre temas como alcoolismo, ansiedade, suicídio e depressão, realmente não se enquadra no gênero da comédia, por mais que tenha seu toque de humor e seja recheado de personagens irreverentes. A polêmica real aqui, é que é provável que o recorde de O Urso tenha sido atingido precisamente por sua colocação entre séries com temáticas consideradas mais leves.
Este ano, a série sobre o chef e seu restaurante em Chicago superou 30 Rock e se tornou a comédia mais indicada em um ano só, com 23 indicações. A categorização tem sua justificativa técnica e se baseia na tradição do Emmy, onde séries de 30 minutos, historicamente, são comédias. Tradição, vale ressaltar, não significa regra: em 2021, a Academia Televisiva eliminou a determinação de que uma série é considerada comédia por sua duração. Desde então, de acordo com fontes não-nomeadas da indústria, emissoras concorrentes têm pressionado pela mudança na categorização de O Urso.
E por mais que ela seja submetida como comédia - e defendida como parte do gênero tanto pela equipe quanto pelo elenco - a Academia poderia se posicionar no debate, como fez em 2015, quando Orange is the New Black, da Netflix, entrou com uma petição para concorrer como comédia apesar de sua duração de uma hora. Na época, Glee e Jane the Virgin fizeram o mesmo, e foram bem-sucedidas, mas a série da Netflix foi considerada drama pela Academia, e teve que aceitar o julgamento. Talvez o rebuliço por dois anos seguidos coloque alguma pressão no Emmy para tomar uma atitude até a próxima temporada de premiação.
Assim, O Urso concorre com a hilária (e curta) Abbott Elementary e a aclamada Hacks, que também pode ser considerada “dramédia”, e mesmo assim tem uma temática muito mais leve. A série protagonizada por Jeremy Allen White poderia encontrar competição também na última temporada de Curb Your Enthusiasm, que recebeu indicações de melhor série dramática por onze de suas doze temporadas. Mas a série de Larry David na HBO é também campeã de derrotas: com 55 indicações até hoje, Curb levou duas estatuetas em sua história.
No fim das contas, o Emmy não deve se distanciar muito do ocorrido no ano passado, quando a premiação concentrou todo seu amor para um número pequeno de produções em vez de espalhar estatuetas para diversas direções. Enquanto as categorias de atuação devem ser dominadas pelas séries vitoriosas, algumas exceções são esperadas, como o provável reconhecimento de Elizabeth Debicki por sua performance de Princesa Diana em The Crown ou das duas protagonistas de Hacks, Jean Smart e Hannah Einbinder.
O Emmy terá apresentação de Eugene e Dan Levy e ocorre neste domingo, dia 15, às 21h no horário de Brasília. A premiação será transmitida pela TNT e pelo streaming Max.